segunda-feira, 4 de abril de 2011

Clandestino

por Isabela Mattiolli

Não adianta, é visível a nossa paixão pelo fast fashion. Por mais glam que você seja, uma peça ou outra das lojas de departamentos, sem dúvida alguma, está presente em seu armário (ou closet). Ainda mais agora com parcerias com estilistas bacanudos (leia-se Cris Barros e Stella McCartney).

O que chama a atenção, como compradoras, é sempre a diversidade dos modelos e de seus preços amigos. Amigos? Bem, a história não é bem como a serpente conta.

Fiquei chocada com a reportagem publicada pela revista Época, sobre o regime quase escravo que redes de fast fashion submetiam seus funcionários. Intitulada como “Cerco às senzalas da moda”, a jornalista Ana Aranha trouxe a tona a triste realidade de bolivianos que trabalhavam na linha de produção para a Dorbyn, confecção intermediária que presta serviços para a rede Pernambucanas – 3ª maior rede varejista de vestuário do Brasil.

Ganhando cerca de 20 centavos por dia, 16 imigrantes bolivianos trabalhavam das 8h às 22h, divididos em dois cômodos em São Paulo, sem janelas e qualquer tipo de qualidade e preocupação no ambiente corporativo.

Em contrapartida, a Pernambucanas faturou cerca de R$4,1 bilhões em 2009. Diferença latente, não é?
Reprodução

Os preços atraentes vão além, de repente, a escolha de tecidos e acabamentos menos sofisticados. Eles estão diretamente vinculados ao crime de trabalho análogo ao escravo. Situação semelhante também foi encontrada na Marisa e Collins e, segundo a reportagem, estima-se que muitas outras confecções funcionem da mesma forma em São Paulo.

Não mais distante, lembramos de casos como o da Nike que, embora não possuísse preços tão convidativos assim, também tinha um esquema clandestino em sua linha de produção.

A Pernambucanas recebeu multa de R$ 2,2 milhões pela acusação de explorar esses trabalhadores que fazem parte de sua cadeia produtiva, além de entrarem em acordo com a Dorbyn para efetuar rescisões de contrato de trabalho com os mesmos. Mas será que isso é o suficiente e existe uma forma alternativa de produzir nos moldes corretos, mantendo o preço que adoramos, sem burlar la ley?

Vamos torcer que sim!

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